01 de Agosto de 2020
  • Zero Hora
  • Vida
  • P. 3
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Ciência brasileira avança em tratamento menos invasivo para o câncer de próstata

Com estimativa de mais de 65 mil novos casos a cada ano, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. Quando diagnosticado em estágio avançado, as opções de tratamento são mais limitadas. Uma das mais efetivas é a castração, que, embora traga bons resultados no controle da doença, impacta na qualidade de vida masculina. O cenário levou um grupo de pesquisadores brasileiros a desenvolver um estudo para avaliar outras alternativas com efeitos colaterais menores.


Realizado em 14 centros, o estudo dividiu os pacientes testados em três grupos. Um deles recebeu a castração combinada com comprimidos e os outros dois receberam apenas medicamentos, sem passarem pela castração - alguns pacientes tomaram dois tipos de remédios, e os outros, apenas um tipo.


- O pilar do tratamento dos casos avançados é a castração, isto é, diminuir os níveis de testosterona. É uma medida extremamente efetiva em mais de 90% dos pacientes, mas carrega consigo muitos efeitos colaterais. O estudo quis avaliar a possibilidade de tratar pacientes só com agentes hormonais visando melhorar a qualidade de vida de quem for tratado sem a necessidade de realizar a castração - explica o oncologista André Fay, coordenador médico do Centro de Oncologia Oncoclínicas do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).


Embora os resultados obtidos não constituam uma resposta definitiva para eliminar o tratamento até aqui mais eficiente, ressalta Fay, o estudo realizado no Brasil levantou hipóteses importantes no que diz respeito ao tratamento da doença:


- Não conseguimos provar que o uso da medicação é melhor do que a estratégia usada hoje em dia (castração), mas vimos que é grande a proporção de pacientes que conseguiram reduzir a doença sem diminuir a testosterona. O grande resultado é mostrar que, de fato, existem pacientes que podem ter o câncer controlado sem precisar proceder a redução de testosterona. Isso gera a hipótese de que o tratamento com medicamentos pode, sim, ser usado, mas, por enquanto, em uma população específica.


u América latina na linha de frente


Por sua relevância, o estudo foi apresentado, em maio, na reunião anual da American Society of Clinical Oncology (Asco), que em 2020 foi realizada online.


- Nosso trabalho mostra a capacidade dos nossos profissionais e do Grupo Cooperativo Latino-Americano de Pesquisa em Oncologia (Lacog) de liderar pesquisa de ponta e que possa impactar no cuidado médico em todo o mundo - avalia Fay.